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Download Grátis - Livro - Zanoni (Edward Bulwer Lytton)

Postado em terça-feira, 23 de março de 2010 |



O PALÁCIO DE ZANONI
(excerto)


O palácio onde Zanoni habitava estava situado num dos bairros menos frequentados da cidade. Ainda hoje se podem ver as suas ruínas, monumentos de esplendor pertencentes a uma época de cavalheirismo, desterrado desde há muito tempo de Nápoles, juntamente com as altivas raças normanda e espanhola.
Quando Zanoni entrou nos seus aposentos particulares, dois hindus, vestidos com trajes do seu país, receberam-no à porta, com as graves saudações orientais.
Estes homens tinham vindo com Zanoni de terras longínquas, onde, segundo diziam os boatos, vivera por longos anos. Mas estes hindus estavam impossibilitados
de poder satisfazer a curiosidade que despertavam e justificar alguma suspeita, porque não falavam outro idioma senão a sua língua materna. Além destes dois,
a régia comitiva de Zanoni era composta de servidores, escolhidos entre a gente de Nápoles, que a sua esplêndida generosidade, unida ao seu carácter imperioso,
convertia em submissos escravos que lhe obedeciam fielmente. Nem no interior da sua casa, nem nos seus costumes, tanto quanto podiam ser observados, não havia
nada que pudesse justificar os boatos que a respeito de Zanoni circulavam pela cidade. Não era servido, como disseram outrora de Alberto Magno e do grande Leonardo da Vinci, por formas etéreas. E nenhuma imagem de bronze, invenção do mecanismo mágico, lhe comunicava as influências das estrelas. Também não se via nos seus aposentos nem o crisol, nem os metais, nem aparelhos de alquimista, dos quais se pudesse deduzir a sua riqueza. Nem parecia ocupar-se com esses estudos profundos que podiam comunicar às suas conversas as noções abstractas e o profundo saber que às vezes manifestava.
Nos momentos de solidão, nunca consultava os seus livros. E, se noutros tempos extraíra deles os vastos conhecimentos que possuía, agora só estudava na
imensa página da Natureza. A sua ampla e admirável memória supria tudo o resto.
Contudo, por algumas palavras de Zanoni pode deduzir-se que cultivava as ciências ocultas. Fosse em Roma, ou em Nápoles, ou em qualquer parte onde residisse, Zanoni escolhia um quarto separado do resto da casa, e fechava-o com um cadeado, pouco maior do que o selo de um anel, e que, não obstante, bastava para ludibriar os mais engenhosos instrumentos de serralheiro, como sucedeu, numa ocasião, a um dos seus criados que, estimulado pela curiosidade, tinha tentado, mas em vão, saber o que se encerrava no dito quarto. Esse homem escolhera o momento mais favorável para que a tentativa permanecesse ignorada e secreta, numa hora da noite em que não havia vivalma ao seu redor, e quando Zanoni estava ausente. O caso, porém, é que a sua superstição ou a sua consciência avisou-o do motivo pelo qual, no dia seguinte, o mordomo calmamente o despediu. O criado,
para compensar-se desta desgraça, divulgou a sua história, acrescentando muitos e divertidos exageros. Declarava que, ao aproximar-se da porta, viu-se repelido por mãos invisíveis, e que mal tocou no cadeado, caiu ao chão, como ferido de paralisia.
Um cirurgião que ouvira esta história observou, para desgosto dos crédulos admiradores de milagres, que talvez Zanoni usasse habilmente a electricidade. Fosse como fosse, naquele quarto, hermeticamente fechado, não entrava mais ninguém para além de Zanoni.
A solene voz do Tempo, provinda da igreja vizinha, veio tirar da sua profunda e tranquila meditação o senhor do palácio, meditação que mais parecia um êxtase.
– É mais um grão, escapado do relógio de areia – murmurou Zanoni – e, todavia, o tempo não dá nem tira um átomo ao infinito! Alma da minha Alma, Augoeides10, ser luminoso, por que desces da tua esfera? Por que abandonas a tua eterna, radiante e serena mansão, inacessível às paixões, e te transportas à obscuridade
do negro sepulcro? Quanto tempo habitaste contente na tua majestosa solidão, sabendo muito bem que o nosso afecto pelas coisas que morrem não nos traz mais do que tristeza?
Enquanto Zanoni murmurava estas palavras, uma das primeiras aves matutinas que saúdam a vinda da aurora começou a gorjear alegremente entre as laranjeiras
do jardim que havia debaixo da janela do estrangeiro. De repente, outro canto respondeu ao primeiro. Era a companheira da primeira ave, despertada pelo gorjeio
desta, que lhe enviava a sua doce resposta. Zanoni pôs-se a escutar, e não ouviu a voz do espírito a quem perguntara, mas, em vez dele, respondeu-lhe o coração.
Levantando-se, então, começou a andar, a passos largos, pelo estreito quarto.
– Fora deste mundo! – exclamou, por fim, com impaciência. – Não poderá o tempo romper os seus fatais laços? A atracção que liga a alma à terra, é igual à
atracção que segura a terra no espaço? Deixa, oh! minha alma, este obscuro planeta!
Rompe cadeias! Agita as asas!
E, ao dizer isto, Zanoni, atravessando as silenciosas galerias, subiu a escada que conduzia ao quarto secreto e desapareceu.






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